O Reino Unido está fora da União Europeia. E agora?
O Reino Unido deve encaminhar em breve um pedido de desfiliação da União Europeia (UE) após o referendo de quinta-feira que decidiu pela saída do país do bloco. O primeiro passo é o novo governo britânico enviar uma carta formal aos 27 países-membros da UE para pedir o desligamento. Em seguida, o Conselho Europeu pedirá que a Comissão Europeia negocie o acordo de saída, que, para ser concretizada de fato, precisa do aval unânime do bloco.
No total, o processo de desligamento pode durar ao menos dois anos e envolverá a discussão do eventual fim da livre circulação de britânicos pela UE, assim como a de europeus pelo território britânico. Muitos especialistas acreditam que, com a adesão do Reino Unido aos acordos de livre comércio, o compromisso de livre circulação entre os países europeus também será legitimado, assim como acontece atualmente com a Noruega ou a Suíça, que não fazem parte da União Europeia.
Além de consequências nacionais, a decisão pode afetar o mundo todo politica, economica e socialmente. Idealizada após a II Guerra Mundial (1939-1945) como forma de pacificar a Europa, um dos continentes mais marcados por conflitos, a União Europeia antes não permitia que nenhum país deixasse o bloco. A flexibilidade foi concedida com o artigo 50 do Tratado de Lisboa, assinado em 2007, porém, até hoje, nenhuma nação tinha decidido retroceder. Por isso, não dá para mensurar ainda as consequências da saída do Reino Unido.
O que se tem são apenas previsões e, assim como as pesquisas de intenção de voto davam o “remain” (permanência) como vitorioso no referendo, poderão se provar erradas no futuro. O resultado do referendo, realizado ontem, não é legalmente vinculante. Em tese, o Parlamento britânico, como órgão independente, pode ignorar o resultado e não iniciar as negociações para a saída do país. Mas o atual premiê, David Cameron, renunciou ao cargo e argumentou que não é capaz de conduzir o país “para este novo destino”, já que ele mesmo se opunha ao chamado Brexit (saída britânica). Isso abre caminho para que um líder nacionalista assuma o posto e brigue para que a decisão do referendo seja reconhecida.
A seguir, as possíveis consequências do rompimento para o Reino Unido e a UE.
É consenso que a saída do Reino Unido da União Europeia diminui o poder do bloco no cenário mundial. Ao lado da Alemanha e da França, o Reino Unido é uma das principais potências europeias e sua ausência na UE significaria, além da perda de influência na política externa, uma carência em termos militares, já que os britânicos são responsáveis pelo quinto maior gasto militar do mundo e os primeiros no bloco. A nação também agrega a UE toda sua vasta rede diplomática, historicamente beneficiada pelo enorme poderio do Império Britânico, que tinha colônias e protetorados em todos os continentes do mundo. A inteligência britânica, capitaneada pelo serviço secreto MI6 e pelo Escritório Central de Comunicação do Governo (GCHQ, na sigla em inglês), também é um trunfo que a União Europeia pode perder
3. Política externa
Até que fique claro qual será o acordo que substituirá os atuais termos de associação da UE, é difícil dizer qual será a política de imigração adotada. Muitos especialistas acreditam que, com a adesão do Reino Unido aos acordos de livre comércio, o compromisso de livre circulação entre os países europeus também será legitimado, assim como acontece atualmente com a Noruega ou a Suíça.
No entanto, até que esse novo acordo seja estabelecido, é possível que a imigração para o país seja regulado inteiramente pela lei nacional britânica. Nesse caso, imigrar para o Reino Unido se tornaria ainda mais difícil do que já é: os cidadãos da UE enfrentariam longas filas e checagens de documentos. Uma diminuição acentuada da imigração de trabalhadores poderia levar a falta de mão-de-obra na área da construção civil e em outros serviços.
Nessa hipótese — pouco provável — os britânicos também teriam de solicitar vistos para viajar pelo resto do continente e cidadãos ingleses vivendo em países como Espanha podem ter de cumprir regras de integração bastante rígidas, como a obrigação de falar a língua oficial da nação, antes de ganharem o visto de residência.
5. Justiça
As empresas de serviços financeiros sediadas no Reino Unido, de bancos a câmaras de compensação e fundos, podem perder os rentáveis “passaportes” da UE, que lhes permitem vender serviços em todo o bloco de 28 nações com custos baixos e um conjunto único de regras.
O sistema de passaportes contribuiu para tornar Londres um dos maiores centros financeiros do mundo. Alguns bancos americanos, japoneses e não europeus que têm sede na capital britânica já disseram que irão cogitar transferir partes de seus negócios dentro da UE no caso de uma saída britânica do bloco.
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